domingo, 26 de junho de 2011

visibilidade desperdiçada

neste domingo são paulo foi palco da parada gay que se orgulha em ser a maior do mundo em termos de número de pessoas. infelizmente muitas delas estão lá apenas para curtir a boate a céu aberto em que tudo é permitido, desde beijar, beber pra cair e até se drogar pra 'aproveitar' melhor a farra. onde fica a questão política, a luta, a reinvindicação por direitos? mesmo com temas como a criminalização da homofobia ou a favor de um estado laico, quantas dessas pessoas realmente sabem disso e se importam?

nesse mesmo domingo aconteceu a parada do orgulho gay da cidade de nova iorque, momento mais do que adequado para se comemorar a histórica noite de sexta-feira em que houve a assinatura do 'marriage equality act' permitindo o casamento gay em todo o estado de nova iorque. mais um marco para a cidade que foi palco de muitas lutas ligadas à comunidade lgbt, como a rebelião de stonewall, 42 anos atrás.

a gay pride de nova iorque reúne um número bem menor de gente do que são paulo ou rio, mas a qualidade supera a quantidade. a ideia lá fora atinge muito mais pessoas do que aqui, pois é uma marcha de verdade, um desfile em prol do respeito.

as ruas são fechadas com grades e todos ficam nas calçadas, acompanhando os grupos que vão representar várias entidades e mostrar que não tem existe vergonha, mas sim orgulho de ser o que são. além disso, a parada mostra também que os homossexuais estão inseridos em todos os grupos e cada vez mais abertamente.

eu estive em nova iorque no dia da gay pride dois anos atrás e gostei muito do que vi: policiais gays abriram a marcha, seguidos por bombeiros gays, políticos engajados na luta por direitos iguais, empresas mostrando apoio (supermercados, cias aéreas, escritórios de advocacia, empresas de tecnologia etc). depois vinham comunidades de vários países de toda a américa, seguidos por grupos de corredores, times de natação, velejadores, veteranos de guerra, times de vôlei e também representantes de igrejas de inclusão homossexual.

havia um carro da pflag (pais, famílias e amigos das lésbicas e homossexuais), com crianças e seus pais, sendo que elas usavam camisas com dizeres 'eu amo meu dois pais/ minhas duas mães'. vi também entidades de luta por um melhor sistema de saúde, principalmente no que diz respeito aos medicamentos contra o hiv, e associações de professores/educadores gays, além do grupo de blogueiros ativistas.

em um dos blocos os voluntários da 'gay american heroes foundation' carregava fotos (com nome e idade) lembrando todos aqueles que tinham sido assassinados, vítimas de crimes de ódio e intolerância, inclusive harvey milk.

claro que tinham drag-queens, mas inseridas em todos esses grupos, além de grupos gays dos ursos e lobos (os peludos), dos amantes do couro, naturistas, crossdresses (homens que gostam de se vestir de mulher) e até mesmo grupos héteros de apoio aos gays estavam representados. a polícia fazia todo a segurança e não vi brigas, gente bêbada e, acreditem, nem vi casais 'se pegando'.

o brasil precisa aprender com os países mais evoluídos. aqui cada 'parada gay' reafirma o esteriótipo do homossexual festeiro e que não está nem aí para a questão política do evento. lutar pelos direitos humanos é mais do que fazer um carnaval gay, é mostrar pra sociedade que a diferença existe e precisa ser respeitada, em todos lugares.

não existe 'opção sexual', já que não é uma questão de escolha, mas sim 'orientação sexual'. a única escolha que existe é a nossa de respeitar, conviver de forma solidária e ajudar na luta para que todos tenham direitos iguais. um evento deste tamanho, com milhões de pessoas e toda a visibilidade que tem, poderia ser melhor aproveitado nesse sentido.

16 comentários:

  1. ótima análise, realmente, a de ny tem um papel bem mais importante, o respeito.
    abs.

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  2. pelo que eu vi, tem um monte de gente que vai pra la, pra zoar e nao pra participar de verdade nao e?,uma pena mesmo, bjs

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  3. Eu concordo que poderia ser muito melhor aproveitado. Mas acho que a Parada daqui já foi bem enraizada com esse cenário, difícil promover uma mudança radical dessas... pelo menos sobre esse nome.

    Fora que conscientizar e mobilizar todo esse pessoal é um trabalho de muito longo prazo... e investimento em educação, cadê?

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  4. Seu texto está perfeito. Acho que não Brasil os reais objetivos da para gay, foram desvirtuados, e virou oba oba.
    Abraço

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  5. Por isso a minha surpresa quando foi aprovada a união civil para pessoas do mesmo sexo. Ainda acho que foi uma revolução.

    Não sou a favor da Parada Gay porque ela é uma espécie de "showmício homossexual". Se não tiver um convite para a diversão, shows e eventos, pouca gente iria participar se fosse para ir lá pedir por respeito aos homossexuais. Muitos gays não diferem dos heteros aqui no Brasil quando o assunto é lutar pelos próprios direitos.

    Ainda estamos assustadoramente atrasados na questão da homossexualidade. As pessoas que dizem "não tenho nada contra" se contradizem com facilidade e há muita gente, que mesmo que, de fato, não seja preconceituosa, demonstra pouco conhecer do assunto, isso fica bem evidente quando revelam acreditar que ser gay ou lésbica é uma questão de opção.

    O ideal seria tratar os temas na escola, logo cedo, fazendo valer da laicidade do Estado. No entanto, até na elaboração dos kits anti-homofobia, ONGs e grupos LGBTs mostram-se totalmente despreparados para abordar o tema de maneira cuidadosa, afinal de contas, é um tema delicado e complexo para quem não sabe o que é fazer parte dessa minoria. É perigoso tentar obrigar os heteros a aprenderem a respeitar os gays na marra e rotulando de homofóbico todo e qualquer indivíduo que demonstre conhecer pouco ou muito pouco sobre o assunto. Isso só gera ainda mais preconceito e fortalece o argumento dos fanáticos religiosos de que os gays querem impor uma espécie de "ditadura".

    Não acho que a Paradas Gays devam ser extintas ou coisa do tipo, mas acho que é necessário que elas sejam repensadas para que seja um evento que chame a atenção da sociedade para a "causa LGBT", ao invés de ser um mero carnaval dos gays.

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  6. As coisas começam a mudar. Essa percepção tua não é solitária, mas temo que a força da festa pela festa já esteja muito grande.

    Sou mais da contracultura do que essas pseudo-manifestações.

    Nada contra as festas, mas é bom dar nome certo aos bois!!

    Abs!!

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  7. É bem por aí... bem por aí...
    Eu - não nego - que não sou sindicalizado mesmo... hehehe! Hugz, man!

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  8. Perfeito Railer !!
    Nesse oba-oba, acho que não adianta mesmo ser a maior do mundo, aliás, alguns comportamentos reforçam o preconceito, e acho sim desnecessários os exageros...
    Perfeito o seu texto !!

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  9. É meio polêmico, pq EUA são EUA e Brasil é Brasil. Não dá pra comparar sem considerar toda a gama de História, cultura e economia que separa os dois países e seu povo.

    Também acho que o gay brasileiro poderia ser mais conscientizado, mas acho que a seu modo a parada local ainda tem muito mérito. E pra ser sincero não gosto muito dessa ideia de que temos que ser iguais os países "mais evoluídos". Até porque eles não são evoluídos em tudo. O próprio casamento gay em NY, só foi oficializado agora.

    Enfim, polêmico. Mas seu artigo foi ótimo, pontuou bem suas ideias.

    Abraço, meu caro.

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  10. humberto, o que eu falei de 'ser evoluído' é em relação a respeito, lutas por direitos, educação com os outros. isso não há como negar, é até uma questão cultural.

    outro dia tava conversando com um colega sobre uma situação simples, que acontece muito no metrô. as pessoas param na escada rolante umas do lado das outras e, mesmo que você peça licença, por estar com pressa, elas não abrem caminho e ainda te olham de cara feia.

    na questão da parada, acho que cria-se uma visão deturpada para quem não tem muita informação, o que não ajuda na luta por direitos e respeito.

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  11. Isso dá uma longa conversa, meu amigo Lembra dessa pauta quando eu finalmente for aí te visitar.

    Abração!

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  12. em portugal é a mesma merda. só show off, exigir respeito dá preguiça neles.

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  13. Este comentário foi removido pelo autor.

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  14. Ah, sei lá. de uma certa forma, sua descrição da parada me fez ter uma impressão de algo muito "asséptico". Grades que separam as pessoas dos desfiles, como se aquilo fosse apenas uma vitrine. Sinto que fica uma mensagem de "não manifeste a sua individualidade: apenas siga/respeite o modelo que mostramos".

    Concordo que a maioria dos frequentadores das Paradas brasileiras não são tão conscientes politicamente falando. Mas também não vejo problema nas pessoas ficarem "se pegando". No carnaval, héteros fazem a mesma coisa.

    Acho muito moralismo querer criticar pessoas que decidem manifestar seus instintos e desejos. Por acaso alguém que afronta esse puritanismo é necessariamente pouco engajada com as causas políticas?

    Sei lá. Sinto que nesse discurso existe uma barganha na tentativa de ganhar direitos. É como se a maioria opressora exigisse gays "mais comportados", que escondam sua manifestação de desejo/afetividade para que estes possam ter os mesmos direitos que ela já tem. E o que estes heteros opressores fizeram para ganhar estes mesmos direitos? Nada? Então porque somente nós temos que pagar um preço por isso?

    Não estou dizendo que todos os gays sejam adeptos da pegação nas paradas, nem que todos concordem com a moralidade de tal ato, mas penso que condenar quem não partilha das mesmas ideias é como extirpar a individualidade, o que fatalmente vai contra algo pelo que lutamos: o respeito à diversidade.

    O problema é que o povo brasileiro em geral não se mostra engajado na política. Esperar que os gays estivessem dramaticamente distantes dessa realidade, sendo surpreendentemente engajados e politizados, seria ignorar que os gays vivem imersos nessa mesma cultura que nos faz um país que pouco valoriza a educação, a cultura e coisas do gênero.

    Ou seja: o engajamento político do gay brasileiro (e do brasileiro em geral) é uma luta com muito mais nuances do que a gente imagina...

    Bom, essa é minha opinião.

    Abraços!!

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